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Necessitamos de Arte,não CRENÇAS
Uma visão de um frequentador de galerias e museus.
Por Paulo Leônidas de Porto Alegre | [Arquiteto e professor universitário ]
[ Paulo Leônidas é arquiteto, professor universítário, cenógrafo e diretor de Cinema e Televisão,escritor, roteirista de Cinema e Séries de TV e está desenvolvendo um trabalho de tese no Pós-Graduação UFRGS (PROPAR) intitulada "
Arquitetura e urbanidade paulistana na segunda metade do século XX: uma biografia possível através do cinema" ]

Não esqueçamos que ver precede as palavras.
A arte “Contemporânea” é definitivamente um estilo, que como todo estilo impõem regras e preceitos.
Mas o esquecimento de um fato tão importante na historia da arte brasileira não é por acaso.
Neste sistema retórico, qualquer coisa é “arte”
As obras de arte do estilo “Contemporâneo” se converteram numa imensa rapsódia de teorias e substantivos, um sistema de arte convertido numa sucursal eficiente e estratégica da produção capitalista, una maquinaria industrial que consome a vitalidade criativa e a capacidade social da imaginação.
Existe uma divisão bem clara realizada por boa parte dão Academia e os teóricos da arte “Contemporânea” do que é este estilo. Estes chamaram arte “Contemporânea” as manifestações que respondem diretamente as denominadas ferramentas de nosso tempo e neste sentido assim englobaram o Vídeo, a Instalação e a Performance, designada arte VIP. E por incrível que possa parecer deixaram de fora da “contemporaneidade” artistas que estão trabalhando agora, pintando, esculpindo e que podemos analisar com valores reais e objetivos. A partir disto constatamos que a arte “Contemporânea” está promovendo uma grande ilusão artística e ao meu ver, algo muito pior ainda, uma grande ilusão ideológica.
Percebe-se depois de todos estes anos deste “estilo” de arte, profetizado como libertário, é que ele é endogâmico, elitista, com vocação segregacionista, realizado por uma estrutura burocrática, apoiado pelas instituições dominantes e patrocinadores. Sua obsessão pedagógica, sua necessidade de explicar cada obra, cada exposição, sua produção de textos, torna explícita a imposição de critérios, a negação da experiência estética livre, define, sem dúvida, a intelectualização da obra para sobrevalorizá-la e para impedir que a percepção seja exercida com naturalidade.
Neste estilo da arte a criação é livre, mas a contemplação não é.
Importante entender que a arte “Contemporânea” foi criada em países industrializados ocidentais onde uma visão de mundo progressista floresceu temporariamente e onde grupos de vanguarda tentaram produzir um estilo moderno autêntico apropriado às condições sociais que mudavam rapidamente.
Este padrão curioso teve seus resultados copiados em todo mundo e frequentemente aplicados de maneira errônea. Além disso, somente a partir da década de 40 as formas ”contemporâneas” tiveram algum impacto significativo nos países menos desenvolvidos e estas formas geralmente careceram da poesia e da profundidade de significado das obras – primas do movimento de arte “contemporânea”.
A disseminação dessa versão degradada do projeto “contemporâneo” ocorreu de várias formas: através da colonização contínua, sendo neste caso imagens da “contemporaneidade”, que funcionavam como emblemas do controle estrangeiro econômico ou político; através da lavagem cerebral de elites “pós-colonial” com imagens e ideias eurocêntricas que eram defendidas como “forças progressistas” opostas a uma era mais antiga de “atraso e estagnação”.
As novas classes arrivistas pareciam querer se desassociar do peso de sua história recente e experimentar nada menos do que as “liberdades” consumistas do Ocidente.
A ironia é que tantos países, finalmente livres do domínio colonial ostensivo, tenham sido tão facilmente persuadidos a adotar versões vulgares e seus clichês padronizados da arte “Contemporânea” ocidental.
Entendo que num mundo, infelizmente tão globalizado, o que ser faz necessário é uma mistura do local e do universal, que evite as limitações de cada um e que leve a formas de ressonância simbólica duradoura. A crença do estilo “Contemporâneo”, superficial e degradado e o tradicionalismo impulsivo são males a serem evitados em todo lugar do mundo.
Como o autor John Berger no seu livro “Ways of seeing” nos diz: “A História está sempre a constituir a relação entre um presente e seu passado. Consequentemente, o medo do presente conduz à mistificação do passado. O passado não é para viver nele; trata-se, na verdade, de um poço de conclusões, dele extraídas, para nosso intuito de agir.”
Um povo afastado de seu próprio passado está muito menos livre para escolher e agir como um povo do que aqueles capazes de situar-se na História. Eis por que e esta é a única razão, a arte inteira do passado tornou-se hoje uma questão política.