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Literatura | Poesia | Roberta Tostes Daniel

ORAÇÃO

Que o pó da estrada

detenha

o pó dos homens.

Que a varredura

dos significados

seja jamais plena.

Que a duração

seja durável

mesmo nas margens

da alegria.

 

E no riso

um rasto

e no medo

nenhum.

Existência

sombra e

luz do dia.

Escrevendo para fazer os fantasmas  falarem:

Os Poemas de

Roberta Tostes Daniel

Delta

 

Se termino em água

águia ou poema

 

nenhuma imagem é bastante

nenhum nome chega

 

a correnteza corre

pelos rastros

 

e a pedra angular

desse sopro

 

não tem foz que mire

meu semblante

 

tudo é silhueta

da mão que desenha

 

ou bebe

ou rasga.

Selfie para Vivian Maier

 

Fotografava impreterivelmente

as tardes

linhas de sombra

escalas de cinza

o peito uma assimetria de folhas

seu rosto em qualquer lugar

cada viagem

mais longe

um sol mais pungente

volátil como o dorso das cobras

reflexo de um amontoado de gente

no vazio suspenso

em avenidas inclassificáveis

na textura incrível do horizonte

alguma madrugada rara

e um retrato que nunca tirou.

Rarefação

 

É como uma tristeza

que permeia

a experiência

vaga

sensação

de romper

o círculo

a linha externa

esgarçada

em limites

de assu

jei

tamento

constante

margem

manobra em luz

de cera

nos olhos

das asas

se derretendo.

Termina

em duas quadras

leve brasa

encurtada

de um aço

que açoda

o que quer que

se considere

aço

o que quer que

se considere

único.

S/T

Pedir que se apaguem as feridas

sucumbir ao escrutínio

de grotescas reprimendas

como se pensar fosse

o artefato pueril

de acumuladores de dinheiro

da pretensa conquista

de quem surgiu com todas as chances.

Vamos retroceder às tristezas de todos

mas se dores são geradas em virtude

da virtude de alguns

deixar a súplica e o diálogo

já ausentes se descumprirem

do papel de divisor de águas

e de tratados semi-milenares

– tordesilhas são cicatrizes

na dor inestancada.

S/T

Escrever para que a maré baixe e as invisibilidades sejam incorporadas ao trajeto do corpo pela palavra, para uma íntima e decisiva convivência com a alteridade.  Para ser sujeito. Escrever para fazer os fantasmas falarem.

Roberta Tostes Daniel, poeta carioca, tem participações em antologias e revistas literárias.

Escreve no blog http://sedemfrenteaomar.com e publica suas fotos no facebook (/esculpirotempo) e no instagram (@robertatostesdaniel).

 

Roberta possui outra matéria neste site apresentando suas fotografias, para acessá-la clique aqui.

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