Destinado ao público infanto-juvenil, "O Jardineiro de Sobral" conta a história do pequeno Dário, filho do Sertão nordestino que desconhece pai e irmãos. O tema da ausência e do vazio, do contraste entre personagem e ambiente, torna este texto de uma pungência e sensibilidade exemplares: há um sertão interior nesta criança. A transformação de Dário em adulto surge após a superação e compensação por tanta solidão. No texto da gaúcha Djine Klein, notam-se reflexos de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. O ilustrador João Clauveci Muruci complementa a trama com as linhas simples e fundas de rostos expressivos, em imagens que lembram a xilogravura da literatura de cordel.
O Jardineiro de Sobral
O Jardineiro de Sobral
A HISTÓRIA
Dário, filho caçula de Felicidade, o personagem do conto infanto-juvenil de Djine Klein, menino que quase não fala – sofre de ausência – e por isto cala sem som – silêncio do sertão e dele próprio – a quem falta a voz, símbolo aqui de potência, de força. Este tema da ausência e do vazio, do contraste e da harmonia entre o interior e o exterior torna este texto literário de uma pungência exemplar – há um sertão interior nesta criança cujos irmãos e pai nunca mais voltaram, seus sete irmãos, insonte o pai se foram - nunca conheceu pai e aqueles líricos sonhados irmãos...com dois adjetivos a autora apresenta o estado psicológico do menino, ou seja aqueles irmãos eram praticamente alucinados, visualizados por ele.
A autora desvela o maltrato do corpo (tempo e terra hostis) por um sertão de securas indigências sofrimentos miséria interior que desabrocha em jardim, cor, fragrâncias e beleza. Jardim contrário da esterilidade, pleno de fecundidade. Clara valorização da natureza como possibilidade de sublimação.
Na saga narrada por Djine, Dário perde a mãe por último, quando conhece o cinema, simbólico da civilização, da cidade grande: A madrinha veio para levar Dário a um tal de cinema.
Ficha Técnica:
Páginas: 50
Ano de Publicação: 2014
ISBN: 978-85-67095-04-8
Composição: Couché Brilho 90g; Ilustrado; Preto e Branco
Gênero: Infanto-Infantil
Bibliotecária Responsável: Nalin Ferreira
NA MÍDIA
Confira o vídeo com a participação da escritora Djine Klein, autora do livro O Jardineiro de Sobral, publicado pela Muruci Editor, no programa Estação Cultura da TVE
Djine Klein
Autora
Desejei escrever uma história para ser publicada e que eu pudesse conta-la, assim como tenho contado os contos de muitos autores. Estava me propondo esse desafio, isso porque gosto muito de contar/cantar textos autorais, com linguagem que assume liberdades, numa prosa flertando com a palavra da poesia.
A paisagem para essa primeira saga, meu conto/poema tinha que ser o Sertão Nordestino, e precisava acontecer numa linguagem que soubesse nascer daquela terra. Eu tentando adivinhar as falas, fui narrando para o ouvido talvez acreditar. Assim foi que nasceu “Dário”, menino de agrestes, paisagem que eu já tinha muita notícia, vinda das pessoas que de certa forma me encaminharam para atividade de ser uma Contadora de História. E talvez, talvez uma autora. Foi tanta a insistência que hoje já me atrevo a contar esse conto para quais me dão ouvidos, e que então fico de contentamentos com eles.
O livro ficou bonito preto no branco, e o Cloveci Muruci o ilustrou bem do jeito que eu desejava, as imagens insinuando-se como a vir com lembrança de um cordel. Tal o jeito que quando eu escrevia o texto pensava nas baladas e literaturas longe de escolas, só a fala doméstica sem a rigidez do dicionário. E meu amigo João também adivinhou assim.
E verdades para serem bem-ditas, os que escrevem inventando e os que se contam para praticar o conhecimento. Homens-meninos e mulheres loucas, as pessoas...Todos os que sabem sonhar e se encantar com uma história, é porque no fundo do ser ainda habita uma criança. Afinal, e os contos são para embalar todo tipo de infância. E são eles os que escutam, os que mais nos ensinam a ser poeta. Então quero ser sentindo e vendo as expressões, e mais aprender com as gentes. Principalmente, aquelas que sabem o pé na terra, de palavras poucas, mas gordas de poesia. Palavras nascidas de longa gestação, silêncios e sujas de pó que é vida em movimento.
Clauveci Muruci
Ilustrador
Nasceu no Pampa, onde com pequenos pedaços de telhas, aprendeu os primeiros traços ao rabiscar as calçadas de sua rua. Por lá deixou sua marca nos riscos facilmente lavados pela primeira chuva a escorrer.Evoluiu em técnicas diversas e hoje se expressa ao usar tinta China, xilogravuras, têmperas, bico de pena, HQs (que publica no Jornal de Artes), fotografia e óleo sobre tela. Insiste no traço livre, com o rabisco solto, totalmente sem compromisso de agradar. Desenvolvo essa liberdade criadora com prazer.É autor de várias ilustrações para livros infantis e ficção adulta, na tentativa de ajudar esses escritores a melhor contar suas histórias. Faz sua parte com prazer na expectativa de que os leitores também absorvam a sua intervenção criadora.